
Bom, hoje estou voltando depois de um descanso merecido...pois a vida de artista não é tão "fácil"como muita gente pensa...mas vamos retornar a nossa viagem ao mundo encantado da restauração!
Os vernizes à base de laca atraem alguns insetos, que põem seus ovos sobre a tela, e ficam pontinhos mais escuros, com uma borda mais clara, sobre o quadro. E se olharmos contra a luz veremos que ali vamos encontrar um furinho. Com o tempo esse furo vai aumentando e perdemos muito do quadro.
O verniz com o tempo vai modificando a cor da pintura, pois vai ficando amarelado, alterando a tonalidade das cores, como:
- branco - fica amarelado
- azul - fica esverdeado.
Outros dizem que o verniz protege a superfície pintada, do pó, sujeira e poluentes no ar (já que o verniz a óleo pode ser lavado com água, sem qualquer perigo). Abrilhantar, realçar as cores que por terem sido diluídas com excesso de aguarrás, tinham ficado sem brilho, unificando o realce e o brilho de todas as cores do quadro.
Muitos artistas desprezam o envernizado, e eu estou aqui, pois o maior inconveniente do verniz, está na sua principal qualidade, " no brilho", que muitas vezes atrapalha a correta visão do quadro.
Quando restauramos uma tela não podemos interferir e nem adicionar nada, a não ser quando autorizado.
O procedimento básico de toda restauração, é retirar a tela dos chassis (aquela parte de madeira que prende a tela). Depois temos que fazer o teste de solubilidade da tinta, para saber ao certo que tipo de solvente usaremos, pois toda tinta tem um ponto em que ela se desfaz, vira líquido, então o uso inadequado é fatal. -
Ex: quando passamos acetona no esmalte das unhas ele vira líquido, e sai no algodão.
Quanto mais antiga a pintura, se dissolve com os solventes mais fortes. Para uma simples limpeza ou conservação, usamos o mais fraco. E temos também que saber como a pintura foi feita.
Temos diversos solventes para usarmos nas telas, que vão desde querosene, até éter e acetonas.
Fazemos o teste do solvente sempre num cantinho da tela, pois corremos o risco de dissolver toda a pintura e ...cada caso é um caso.
Para conservar uma pintura com mais de 30 anos, temos que restituir a elasticidade original da tinta. Trabalharemos com solvente fraco e repetiremos o processo por vários dias, e até meses para que a tinta volte ao normal.
Quando a tela já sofreu restauração e por sinal "mal feita", tiramos um raio x da tela, para saber o 1° passo do autor, e restituir sua pintura original. E se soubermos o desenho original, será retirado somente a pintura recente, e o material novo, posto sobre a tela original. Então usaremos solventes fracos para esse serviço, e iremos descobrindo aos poucos, a pintura original da tela, e devolvendo sua verdadeira identidade.
No caso de descolamento de pintura, rasgos, ressecamento, teremos que fazer uma reentelagem.
Fazemos então uma liga a base de cera de abelha, e outros elementos, para que possamos colar a pintura original num novo tecido, que tem que ter a mesma qualidade do antigo, para não sofrer rejeição de material, ou resistência.
Para fazer essa reentelagem, temos que trabalhar numa superfície plana de madeira, onde forramos com bastante papel(jornal) embebecido em solvente. Colocamos a tela já retirada dos chassis, com a face pintada voltada para baixo, e pregamos com tachinhas o novo tecido, bem esticado sobre a madeira. Jogamos a solução de cera(aquecida sobre o tecido) e passamos com ferro de passar roupa, em temperatura morna, para que a cera da superfície penetre na tela original.
Deixamos esfriar, e retiramos as tachas e viramos a tela.
Esse serviço, tem que ser muito bem feito, pois não se pode deixar criar bolhas de ar, e nem deixar a temperatura do ferro queimar a pintura.
Feito isso, retiramos o excesso de cera, e deixamos a tela por um tempo, para que possamos trabalhar nela. Teremos de limpá-la e talvez dar alguns pequenos retoques.
Se houver rasgos, podemos usar massa de pintura para suavizá-las e retocar por cima.
Para os retoques temos que usar a mesma tinta original e nunca usar betume para tentar envelhecer a pintura, pois essa é a maior causa do escurecimento da pintura e sujeira...e quando retocamos com perfeição,(a parte danificada) temos nítida impressão que toda a tela foi pintada naquele momento e que nada ali foi mexido.
Ressalvo que todos os retoques só poderão ser feitos com o consentimento do dono do quadro.
Lógico que existem métodos bem mais sofisticados, como câmaras fotográficas tridimensionais ligadas a sofwares especializados, limpeza à laser( como no Museu de Versailles), mas são recursos muito caros...mas para mim o que conta, é o resultado final, e restaurar com perfeição é devolver ao dono, seu "objeto" por inteiro, respeitando acima de tudo um trabalho feito por outra pessoa e que merece respeito.
Espero ter conseguido nessas duas postagens, mostrar um pouquinho desse mundo tão fascinante, e tão vasto, que é a - RESTAURAÇÃO-
Até breve!