terça-feira, 27 de outubro de 2009

AQUARELA, técnica fascinante de pintar



Aquarela: Pintada por Waleria Lima


Quando olhamos para nós mesmos, e enxergamos aquele que se encontra camuflado num corpo estranho, temos a nítida impressão que somos realmente como a própria natureza, e que por trás de nossa janela, existe a luz do sol, e tudo é belo de fato lá fora; e ora nublado encobrindo o azul do céu ...e tudo é visto de outra forma, e assim somos nós!! Então por que tantas cobrança se somos vulneráveis a todo tipo de mudança? Por que nos cobramos tanto, se de fato somos o que a escritora Cecília Meirelles deixou bem claro em sua poesia: “ Ou Isso ou Aquilo”?
Você deve estar a se perguntar o porque de tudo isso, mas fique calmo! É que hoje vou falar de uma técnica fascinante de pintar, e o mais antigo processo artístico que se conhece. Suas cores são apresentadas em matéria pastosa acondicionadas em bisnagas de chumbo. Há também as mesmas cores em pastilhas duras, para serem dissolvidas por meio d’água. Tem particularidade vantajosa de ser misturada a uma infinidade de outras tintas aquosas, como: guache, tintas vinílicas, anilinas, ao nanquim, a ecoline, a tinta acrílica, além de possibilitar muitas outras. Já sabe o que é?? Tá boooom, vou falar: - AQUARELA - Essa técnica de pintura fundamenta-se na sua extrema simplicidade de meios; esta simplicidade, no entanto é aparente.


Entre os artistas e mestres genericamente a aquarela é considerada como gênero mais difícil, entre todos os outros processos conhecidos. Realmente existe verdade nesta afirmação, aliás, sabemos nós que tudo “aparentemente” mais simples, acaba tornando-se mais complicado, talvez por exigirmos muito de nós, e exagerarmos na dose.
É comum ouvir: - o difícil é a mistura das cores; realmente concordo que é difícil, entretanto para quem pouco ou nada sabe do ofício.
Se não conhecermos por experiência o comportamento das diversas cores e gamas cromáticas, no que tange justaposição das mesmas que em paralelo fornecerão um segundo efeito harmônico, então jamais poderemos terminar satisfatoriamente uma paisagem, uma natureza morta... Resumindo, sem técnica o pintor não saberia o que fazer das tintas.
O artista precisa ter resistência, persistência e força interior afim de poder superar as fraquezas até a meta a que se determinou!! Estes são os princípios fundamentais da arte... insistir, não desistir jamais!! Por isso hoje, eu entendo que mesmo quando cometemos um erro realmente grave, podemos tirar proveito dele de diversas maneiras. Além disso, a própria tentativa de corrigir os erros eventuais, e através destes fazer descobertas interessantes e inestimáveis lições. Soluções que o tempo jamais seria capaz de ensinar.
A aquarela é praticada com meios absolutamente inversos aos da pintura a óleo. Na pintura a óleo as tintas são levadas a tela em camadas densas sobrepostas, reservando as “luzes” para o final; já na aquarela, as luzes deverão ser levadas em consideração de início, representadas unicamente pelo fundo branco do papel (pois a cor branca não existe, já que as cores são transparentes) de preferência granulado e áspero, pois assim as tintas aderem adequadamente.


O tributo da pintura a óleo é a opacidade. Ao inverso, na aquarela devem sobressair suas vistosas cores translúcidas.
A aquarela é um meio de expressão delicado, e transparente, que exige rapidez, sem se ater as minúcias, e sem sobrepor a tinta para retoque, por isso, o motivo de tantos estudos.
Quando vemos uma aquarela pronta, não imaginamos quantos segredos cabem nesta técnica aparentemente “fácil”. Então eu pergunto: - Você sabia que ao secar, a aquarela perde a metade de seu colorido? – Então!! Por isso um esboço que pareça vivo se tornará pálido e esmaecido quando acabado.


A aquarela apresenta um bonito efeito de transparência porque nela se utiliza pequena quantidade de cor diluída em muita água. Com a evaporação, o papel branco ou amarelado adquire a luminosidade: a luz se reflete por meio da transparência da tinta. Pode-se no entanto, aplicar outras camadas de tinta, até obter uma coloração mais forte.
Você deve estar pensando: - engraçado, ela disse que se deveria evitar a sobreposição de tinta para retoque... e agora.!?!
- Correto!!! A medida que se pintam novas camadas, a transparência da aquarela vai desaparecendo e sua luminosidade pode se anular por completo, e este é o problema...por isso, o esboço seja tão importante , para alcançarmos a meta do ideal sonhado, e a chave deste segredo. “Talvez”, seja desnecessário dizer, é “a paciência”!! Quando estiver pintando o céu de uma paisagem, lembrar que devemos pintar com tonalidades bem mais escuras, afim de obter uma tonalidade geral mais exata depois de seca a aquarela. Desta forma evitaremos os retoques, os quais sempre tendem a subtrair o brilho da tinta original, anulando por sua vez seus distintos pigmentos.
Um dos aspectos fascinantes do trabalho com aquarela é que você pode criar efeitos não só acrescentando tinta, mas também removendo-a com uma esponja ou pano úmido.
Aquarela - Pintada por Waleria Lima

Resumo dizendo que a aquarela é a forma genuína de captar e esboçar de forma rápida espontânea e com segurança aquilo que queremos eternizar!
_ Que tal começar agora o esboço de uma paisagem por meio de figuras pinceladas, que constituirá mais tarde um manancial a recordar, cheio de saudade, de um momento que “talvez” nem mais volte a se repetir?!?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Perspectiva como poderoso instrumento.

Ao contrário das esculturas e das instalações e na tentativa de representar a realidade no papel ou na tela, o artista se depara frequentemente com um dos problemas mais comuns neste campo: a representação da profundidade.
Entre o mundo que nos rodeia, os objetos que se encontram a nossa volta, percebemos neles 3 dimensões, ou seja: altura, largura e profundidade. Já quando pintamos um quadro em qualquer que seja o tema, nessa representação encontramos altura e largura. Trata-se de uma realidade bidimensional e não tridimensional. Portanto aquilo que o artista faz ao representar no seu quadro uma determinada cena que vê a sua volta, é uma verdadeira tradução de uma realidade já existente para outra totalmente diferente, que cria servindo-se de regras.

Devemos ter em conta que embora uma determinada cena em perspectiva nos pareça algo real e evidente, na realidade trata-se de mais um traço da nossa herança cultural.
Assim sendo, não existe uma regra absoluta para representar a realidade que nos rodeia
de forma totalmente fiel, mas antes diferentes caminhos para nos aproximarmos do que seria uma representação satisfatória.
Além disso, é preciso lembrar que a perspectiva só fez parte da tradição pictórica a partir do renascimento, e isso apenas na cultura ocidental. Tanto noutras culturas como períodos anteriores o homem tinha outras formas de representar 3 dimensões numa superfície plana.
Hoje em particular, quero dar umas pinceladas sobre 4 tipos de perspectivas fundamentais para se conseguir bons resultados:

Temos a perspectiva aérea que é aquela linha reta que parte dos olhos do observador até alcançar a linha do horizonte (linha imaginária horizontal que se situa a altura dos olhos do observador). Esta linha que estabelece a altura dos objetos situados na sua trajetória. Essas vão diminuindo progressivamente até desaparecer no último plano da paisagem. Sendo assim, os segredos básicos para reproduzir a perspectiva aérea são bem simples: reduzir progressivamente a intensidade das cores do fundo e ao mesmo tempo clareando seus tons.
Acrescentar tonalidades de azul as cores para esfriá-la e iluminar textura e detalhes dos motivos do fundo, fazendo contornos incisivos para que pareçam borrões. Apenas acrescento de que nada adianta uma perspectiva aérea produzida com todo cuidado, parecerá falsa, se o primeiro plano e o plano intermediário não estiverem bem definidos, para ajudar o plano de fundo recuar. (isso na pintura).












Já na perspectiva linear quando observamos a realidade que nos rodeia, percebemos claramente que os objetos são vistos bem menores ao se afastarem de nós. Também vemos que duas linhas paralelas convergem ao longe até se unirem na linha do horizonte. Então vemos na pintura que além dos efeitos esmaecidos das cores dos planos mais afastados observamos que o tamanho desses objetos no plano de fundo parece diminuir.



Paisagem urbanas proporcionam a oportunidade perfeita para transmitir profundidade por meio da perspectiva linear.
Lembre-se de que as linhas paralelas das ruas e dos prédios devem convergir todas para o mesmo ponto
de fuga.


A perspectiva paralela(abaixo) utiliza-se quando se quer representar um ou vários objetos cuja a face frontal é paralela ao plano do quadro e as outras faces perpendiculares. Esse tipo de perspectiva caracteriza-se por ter um único ponto de fuga(pontos que se encontram quando prolongados na linha do horizonte). O referido ponto está situado no local em que a linha do horizonte e o raio visual central se intersectam. O raio visual central é, de entre todos os que se dirigem do olho do observador para o objeto, aquele que é totalmente perpendicular ao plano do quadro.






Um objeto está em perspectiva oblíqua, quando nenhuma de suas faces apresenta-se a frente do artista. A conseqüência disso é que não temos apenas uma série de linhas de fuga, mas duas correspondem os pontos de fuga na linha do horizonte. (abaixo)










Não há dúvidas de que a perspectiva é um poderosíssimo instrumento de que o pintor dispõe para representar na obra, uma cena de forma muito aproximada daquela que vemos na realidade. Portanto acho necessário ter algumas noções básicas sobre tudo aqui falado, para poder se expressar com segurança, no campo do desenho e da pintura realista, mas devo dizer também, que o uso ou não da perspectiva não faz com que uma obra seja melhor ou pior.até porque com o tempo muitas transformações mudaram radicalmente a nossa maneira de expressão.
Digo que além de um bom desenho e de uma boa pintura, também é necessário ter personalidade, sensibilidade e uma grande dose de bom gosto!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Delacroix Ferdinand Victor Eugène - França 1798/1863



A Liberdade Guiando o Povo- 1831(óleo s/tela)



Como seria bom se todos perdessem algum tempo do dia, escrevendo sua história de vida! Quem sabe assim, pudéssemos fazer uma análise de nossas atitudes, traçar trajetórias, passar para outras pessoas as nossas experiências, descobertas...acredito que assim, poderíamos simplificar a vida, e nosso modo de ver as coisas.
Delacroix registrava em seu famoso diário com beleza literária, impressões croquis ou esboços iniciais, que depois, vinha enriquecendo com novos elementos. Sobre seu método de trabalho, escreveu:
_”Quando vejo o 2° croqui, de fato, quase copiado do anterior, mas no qual minhas intenções estão mais claras – tirando as coisas inúteis e introduzindo, por sua vez esse grau de elegância que sentia necessário para alcançar a impressão do tema – O 1° me é insuportável.”

Para ele, a arte é um trabalho de longa maturação, que nada tem a ver com as coisas que já nascem acabadas. A propósito registrou em seu diário:
_ ”O belo tão difícil de encontrar é ainda mais difícil de traduzir.”
Como os hábitos, como as idéias, ele sofre todo o tipo de metamorfose. Considerado o maior pintor romântico da França, Delacroix iniciou sua formação artística no atelier neoclássico Pierre Guérin (amigo de Gericault) e estudou os grandes quadros de batalhas do Barão de Grós. Experimentou também, aquarela e a gravura...

Estudos -Garanhão e égua (bico de pena)

Extraordinário colorista, de tons brilhantes, sombras luminosas e transparentes.
Suas obras baseiam-se na construção triangular ou diagonal, tão utilizada na renascença e no barroco, por pintores como Veronese e Rubens.
Delacroix gostava de abordar temas literários e patrióticos entre os quais “A Liberdade Guiando o Povo (1831), verdadeiro manifesto do novo romantismo revolucionário, exaltando a revolução de 1830.
A viagem para Marrocos em 1832, e o regresso através da Espanha, colocam em sua paleta novas cores vivas e luminosas.
Na costa africana, o pintor estuda a natureza, os homens, seus costumes, suas festas coloridas.
Delacroix executou também grandes ciclos de trabalho em Paris, entre os quais as alegorias do Palácio Bourbon e o teto da Galeria de Apolo, no Louvre.
Essencialmente romântico Delacroix, atormentava-se diante do realismo que começava a ser introduzido nas artes de seu tempo. Não via mais nada além das ilusões que pretendia criar com a pintura.

Foi com 50 anos de idade que Delacroix, começou a demonstrar maior interesse pelos animais. Ao acabar de ler um livro sobre história natural, registrou em seu famoso diário:
_”Elefantes, rinocerontes, hipopótamos, animais estranhos. Que variedade prodigiosa de animais, e que variedade de espécies, formas e destinos”!
Sem falar dos imponentes cavalos que ele pintou desde a juventude – “os cavalos de Delacroix”.
– destacam-se dos que foram pintados e desenhados por artistas de todas as épocas, por duas características principais: - seus cavalos são sempre apanhados em movimento, empinados, na confrontação entre guerreiros, em luta com outros animais, ou enquanto rolam pelo chão feridos e geralmente estão aos pares, um diante do outro; ou um ao lado do outro, como na intitulada obra – “Cavalos que saem do mar”._ Aqui Delacroix coloca os dois fogosos animais em contra posição, mas numa relação de reciprocidade, onde um é a imagem do outro, o que acentua a profundidade da obra.Seus cavalos podem ser considerados figuras épicas extraordinárias. Eles são vistos na concepção romântica do pintor, como símbolo da elegância, por suas linhas arrojadas e significativos tons de pelagem. E traduzem no ímpeto do próprio movimento a paixão que anima a pintura deste grande mestre.
Apesar de longe da representação real, a imagem desses cavalos transmitem uma “notável sensação de realidade”. Vendo esses animais, tem-se a impressão de vida, de poder cavalgá-los, puxar-lhes as rédeas, e até sentir-lhes o cheiro. É um realismo que o autor alcançou, sem procurar a exata imitação, mas colocan
do em seu trabalho a “marca do espírito”, como gostava

de acreditar.



Cavalos que saem do Mar - 1860(óleo s/tela)



Delacroix tinha em seu diário um companheiro fiel, onde depositava tranquilamente todas as suas impressões, esboços e todos os tipos de sentimentos, onde as emoções tomavam conta de suas anotações.
Romântico, misterioso, sentia-se profundamente solitário – onde dizia: “Tenho dois, três, quatro amigos e sou obrigado a ser um homem diferente com cada um deles, ou melhor, a mostrar a cada um, a face correspondente. Esta é uma das maiores misérias; não poder nunca ser conhecido e sentido por inteiro por um mesmo homem. E quando penso nisso, creio que é a soberana chaga da minha vida.”
O atelier agora está completamente vazio. Este lugar que se viu rodeado de todo tipo de pintura, dentre as quais, muitas agradavam e despertavam uma lembrança ou uma emoção-mas fica aqui registrado, um pensamento de Cézanne sobre Delacroix: -“É a paleta mais bonita da França! Não há ninguém sob o céu que possua a vibração de suas cores!.
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