terça-feira, 8 de novembro de 2011

AMAZÔNIA E SUA EXUBERANTE BELEZA - MARGARETH ÚRSULA MEE - INGLATERRA - 1909/1988

Muitos vivem e não se dão conta, outros vivem germinando ideias, questionamentos, e deixando um pouco do seu perfume...sim, uma amante das plantas, apesar de não ser botânica profissional, mas um vasto conhecimento combinando a expressão artística com a natureza e a ciência.

Margareth Mee, uma pessoa com visão futura, com uma grande preocupação com o mundo, com a extinção ocorrida por vários fatores, que hoje estão devastando, ameaçando a "vida humana!" Tudo isto foi previsto há muito tempo atrás, mas devido a ignorância da época, todos eram vistos como "bruxos": e hoje qual seria a desculpa? O que fazemos com todas as informações que recebemos? Por que um jogo de futebol é capaz de mobilizar uma nação, e uma passeata em prol da paz, um não a corrupção não é capaz de mexer com o povo brasileiro?

Margareth Mee desde muito cedo mostrou ser uma pessoa de espírito aventureiro, sempre ligada a novas descobertas, buscando sempre um alimento para a alma! Apesar de ter talento evidente, colocou de lado a faceta artística e se embrenhou na vida política, e assim, como o primeiro marido, juntou-se ao partido comunista britânico. Tendo grande papel como oradora e demonstrava grande paixão por seus ideais.

Mee era despojada, uma mulher de coragem em se expor era muito grande, quebrando o silêncio imposto as mulheres na época. Dedicou-se as causas de luta contra a pobreza, a guerra civil espanhola e o movimento fascista na Inglaterra.

Não gostaria muito de me deter na parte política, mas somente dizer que nos meados da segunda guerra mundial, Margareth Mee Alterou suas convicções e com a ajuda de amigos, entrou em 1947, para a Escola de Arte de St.Martin - em Londres - a qual acho que fez muito bem, pois sua vocação gritava muito mais alto, e através dela se podia dizer muito mais ao mundo!

Com o trabalho desenvolvido nesta escola foi admitida na Escola de Arte Camberwell(Londres), onde mais tarde se tornou professora. Lá conheceu Victor Pasmore, um dos melhores pintores britânicos, e que teve uma grande influência sobre ela.

Em 1952, Mee, veio para São Paulo com seu segundo marido com intuito de cuidar da irmã doente. Chegando lá deu aulas e seu marido se ocupava como comerciante de arte. Durante este período, o fascínio pela exuberância da mata atlântica que na época cobria grande parte do estado, incluindo áreas que hoje fazem parte dos subúrbios urbanos, levou-a a pintar plantas e flores que encontrava em passeios locais. Daquele momento em diante Magareth se apaixonou pelo que viu e encontrou um novo desafio em sua vida - "pintar as florestas tropicais."

Mudou-se para Belém do Pará, e se inspirou nas pesquisas de um famoso expedicionário - Richard Spruce, cujos itinerários serviram de exemplo para suas próprias expedições.

Em 1956 fez a primeira viagem a floresta Amazônica, e ali foi um despertar de uma grande paixão que transformaria sua vida para sempre. Foram 15 expedições de 1956/1988 - digamos que seja um sonho transformado em uma bela realidade, onde seu trabalho seria: _ desenhar, pintar e coletar muitas espécies de plantas, tal como existem no seu habitat natural.

No meio dessas idas e vindas fez grandes descobertas. Registros de espécies que a comunidade científica pensava estar extintas, uma vez que não eram vistas há décadas!

Na última expedição realizou o sonho que tinha desde 1965, ( já havia tentado várias vezes ) de capturar o desabrochar da FLOR DA LUA (uma espécie rara de cactos - selenicereus Witti (cactaceae)cujas flores brancas abrem unicamente numa noite de lua cheia no ano. Declaração de Margareth Mee sobre aquilo que viu: _ "Enquanto me posicionava ali, com a orla escura da floresta ao seu redor, sentia-se enfeitiçada. Então a primeira pétala começou a mexer-se , depois outra e mais outra, e a flor explodiu para a vida!!!"

Seu trabalho começou a atrair atenções, e em 1960 foi convidada pelo Dr. Lyman B. Smith, um especialista em bromélias, para participar do projeto - "Flora Brasílica"- fazendo ilustrações na seção de bromélias.

O projeto durou 5 anos, viajou todo o país, e se tornou perita em plantas da família BROMELIACEAE, descobrindo novas espécies, três das quais receberam seu nome.

Em 1969 foi publicado o livro escrito por Lyman B.Smith com pinturas de Mee - intitulado _ "THE BROMELIADS"

Margareth sempre solicitada, veio parar no Rio de Janeiro, indo morar no bairro de Sta Teresa seguindo a sugestão do amigo e companheiro de algumas expedições - o paisagista e botânico "Roberto Burle Marx". E foi nessas expedições que colheram várias espécies de plantas tropicais para os seus jardins. Dessa maneira, MEE, pode contribuir muito para o enriquecimento dos jardins do Rio de Janeiro, doando espécies de plantas recolhidas nestas viagens.

No RJ, trabalhou com Guido Pabst, um perito em orquídeas e contribuiu para a ilustração do seus livros com suas pinturas: _ FLORES DA AMAZÔNICA, EM BUSCA DE FLORES e NA FLORESTA AMAZÔNICA(aquarelas).

O que teria levado esta pessoa a assumir um papel tão importante dentro do Brasil e para o mundo, numa visão onde a beleza das cores, a vida nas florestas tropicais se tornaram tão latentes? Seria apenas um desejo particular, ou uma visão ampla e futurista, que um dia muitas espécies desapareceriam?

Muitas viagens, muitos perigos, doenças, convivência com os índios, muitas dificuldades e cansaço, mas nada a impedia de registrar tudo que observava. Nesses 30 anos vivenciados durante suas expedições na Amazônia, foi percebendo o crescimento desordenado da atividade humana, causando alterações dos ecossistemas, e assim, a tristeza e a reflexão começaram a ganhar forma. E além de fazer seu papel como artista e pesquisadora, começou a lutar pela preservação. E apesar da falta de liberdade nos anos 60/70, não a fizeram calar. Não podendo se expor em público, procurava outros meios. Quando mais tarde se passou a existir liberdade de expressão, foi uma das primeiras pessoas, a falar sobre - DEVASTAÇÃO CRESCENTE - e sem sentido da FLORESTA AMAZÔNICA, inclusive chamando a atenção de outros países para este fato.

Margareth Mee diante de tal realidade fez uma coleção privada de todas as suas aquarelas de cada espécie, nomeando de: _ COLEÇÃO DA AMAZÔNIA - Seu desejo, era que todos pudessem ter acesso a um guia vasto e completo de espécies raras, muitas hoje já extintas. Sua intenção era vender seus registros a uma instituição americana ou inglesa, para serem preservados. Você deve estar se perguntando: _ Por que não o Brasil? _ Hum... pelo que sei, é que sua intenção era que sua coleção fosse mantida fora do Brasil, pois tinha tido experiências desagradáveis com o Instituto Botânico de São Paulo, e ainda por razões pessoais.

Foram feitas várias negociações, muitas não aceitas pelo preço inferior ao pretendido. Finalmente em 28 de Novembro de 1988 foi fechada a compra pela Companhia TRUST(Inglaterra) aceitando o preço e as condições estipuladas pela pintora como: _ 1 - dar ao público acesso fácil a coleção - 2-criação de bolsas de estudo para novos artistas e biólogos para continuarem os estudos da Amazônia - 3 - A vontade de que suas pinturas nunca tornariam ao Brasil.

Creio que o que aconteceu com MEE, acontece e aconteceu com muita gente aqui no Brasil, que é a falta de incentivo, valor e reconhecimento, mas isto, eu deixo pra uma outra postagem.

Mee morreu na Inglaterra em 1988 em um acidente de carro.

Pelo que li, posso dizer, que ela deixou um grande legado, incomparável e sobretudo regado de um sentimento nobre que define toda sua dedicação -

o AMOR -!!!



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...