segunda-feira, 5 de abril de 2010

O vento do outono varrerá as folhas murchas - Jean Antoine Watteau - Francês - 1684/1721

Assim que olhei esse quadro me apaixonei por esse artista, que me aproximou da essência lírica e deliciosa de um romantismo que hoje se encontra tão longe da alma humana! Seria um jogo de palavras que nos submete aos sentimentos mais profundos, que merecem ser estudados, interpretados, e “talvez” imitados.

Esse artista tem nesta pintura, sua obra prima – GILLES – um pierrot gigantesco, seu auto-retrato espiritual: onde representa através da pintura seus traços marcantes, entre a timidez e a sensibilidade, onde os sentimentos se confundem e se declaram num breve e tão despercebido sorriso, o menino que mora dentro dele, e num olhar doce e triste, declara sua fragilidade em relação ao tempo. De braços caídos, de forma desanimada assiste ao espetáculo sem participar dele.
Sua ascendência familiar, vinda de seu sobrenome (Gateau-doce) houve doceiros e padeiros. Honrou a tradição, criando uma obra saborosa, para a imaginação deliciosa para os sentidos, sugestiva para o sentimento.
Seu pai, era um humilde pedreiro (trabalhava c/ardósias) e quando o filho já estava em idade de ajudá-lo, provocou a ira paterna ao preferir entrar no ateliê de Gerin, um pintor da cidade natal – Valenciennes – localizada próxima a fronteira de Flandres, recém conquistada por Luís XIV. Nesta época tinha 14/15 anos. Não satisfeito, o mestre por sua parte também não conseguiu reter muito tempo o precoce discípulo, e como seu pai se recusou a pagar pensão, abandonou sua casa, sem dinheiro, sem roupas, com o único desejo de refugiar-se em Paris, na casa de algum artista. Mas como tudo é difícil nesta vida, lá encontrou muitas dificuldades. Foi trabalhar para um fabricante de quadros em série da ponte de Notre Dame.
Aproveitava suas andanças para registrar tudo aquilo que lhe chamava atenção: andrajosos, mendigos, cortesões enfeitados, injuriadas prostitutas e damas refinadas.
O trabalho esgotante, o salário miserável, o mal ambiente, desgastam muito em breve aquela juventude frágil e sensível corporalmente, incapaz de sustentar durante muito tempo sua disposição e força de espírito.
Watteau não demorou a contrair uma irreversível tuberculose.


Mais flamengo que francês freqüenta círculos de antigos compatriotas em Saint-German. Graças aos marchands Jean e Pierre- Jean Mariette conhece Claude Gillote, desenhista que tinha trabalhado na comédia Italiana, expulso do país por influência de madame de Maintenon: a Comédie Française – não tinha podido suportar o êxito dos cômicos italianos.
Através de Gillot, familiariza-se com os personagens da Farândola. Os fantásticos, delicados e risonhos arlequim, colombina, mezzetino, scapino...até 1708 colabora com Gillot e conhece Claude Aubran, decorador de palacetes e alguns conjuntos florais, bestiários, comediantes e pastores que se repetem uma e outra vez. Graças a Aubran, conservador do palácio de Luxemburgo lhe abrem a porta deste, e a coleção das pinturas que Rubens fez para Maria de Médicis. Seu coração se alegra diante daquela jovialidade colorida e viva. Nos jardins do palácio, exuberantes e belos, encontra sua paisagem predileta; passando a ser seu cenário favorito. Ali encantado pela beleza, Watteau, pintava envolvido pela música que seu amigo Julien (violoncelista) interpretava para ele.
Inovador e criador, não desdenhava da disciplina dos estudos acadêmicos. Em 1708, inscreveu-se na academia situada no Louvre. Nesse mesmo ano participa do prêmio de Roma. Decepcionado por ter conseguido apenas o segundo posto, regressa a Vallenciennes. Encontra-a em cenário da guerra, entre o rei da França e o Imperador. E da mesma forma que tinha vagado pelas ruas de Paris, coberto de lama acompanha os soldados, contempla as suas atividades, armazenando material suficiente.
Seus quadros são inundados na teatralidade-
Muitos tem motivos variados e várias interpretações.
A música está sempre presente.
Identifica-se com o estilo rococó. (estilo artístico de origem francesa caracterizado pelo excesso de elementos decorativos).

Pinta desfiles de tropas, acampamento, ronda de soldados. Seus quadros conseguem um grande e inesperado êxito em Paris. Seu marchand - Pierre Sirois – o anima a regressar e oferece sua casa, onde conhece o genro deste – Gersaint – que se transformou num grande amigo protetor e biógrafo.
Em Paris consagra-se a pintura. Encerra-se no ateliê e utiliza como modelo seus próprios desenhos, realizados com lápis vermelhos e negros e lápis brancos para os toques de luz.
Watteau é simples em seu viver, e em suas pinturas procura exprimir o seu mundo fragrante, sensitivo, feito de graça, refinamento e beleza.
Seria um gesto de generosidade, ao se aproximar do eterno, mesmo sabendo que o limite estava presente em sua realidade.
Em sua suave tristeza, tenta cobrir o que os olhos não querem ver. Através de sua pintura se faz presente: ouve sussurros, espia os beijos, presencia os bailes, sente cada nota musical, sonha com a mitologia, vive o amor que só pode realizar com seus pincéis, pois não se atreve, pois tem medo que a proximidade rompa a poesia.
Igualou em anos, trinta e sete a outros dois criadores: Rafael e Van Gogh, e com eles marca a história da pintura. Se há um antes e um depois de Rafael e Van Gogh, existe um modo de pintar anterior e posterior a Watteau .
Termino esta postagem dizendo:
_ O vento do outono varrerá as folhas murchas, mas jamais varrerá Watteau de minha lembrança!
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